20.1.11

Duas Bolinhas


SEGUNDA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2006

DUAS BOLINHAS

Por que a governadora Rosinha Matheus reluta em acompanhar agreve de fome do marido, o pré-candidato do PMDB à Presidência Antony Garotinho? A patética greve de fome de Garotinho, sem Rosinha, me fez lembrar da crônica de Renato Lemos, do Jornal do Brasil, ainda atual, que expõe bons motivos para que a governadora se submeta agora ao regime radical do marido.






A BARRIGA BRANCA DA ROSINHA

Renato Lemos

Há sete dias estou apaixonado pela governadora Rosinha Matheus. Mais precisamente pela barriga da governadora Rosinha Matheus.

Fotografaram a governadora mergulhando em Bonito, Mato Grosso do Sul. Ela usava um biquíni, um biquíni cor-de-rosa. O material ainda circula pela internet, acompanhado de títulos indecorosos e aqueles risinhos (rsrsrs) virtuais e cretinos. Outro dia recebi uma delas, em que a imagem da governadora era encaixada num cetáceo qualquer. E tinha os tais risinhos como comentários. Deletei. Rsrsrsrs é o escambau.

São duas fotos. Na primeira foto, Rosinha estava de pernas para o ar, tentando entrar em um bote. A foto era das pernas, apenas. Ridícula, era o que se propunha. Tenho impressão que mesmo a Camila Pitanga tem dificuldades de entrar em botes com classe. Mas não foi a primeira foto que fez mais sucesso.

Foi a segunda foto. De frente. E nela aparecia quase que exclusivamente a barriga de Rosinha: branca, alguns pneus, celulites óbvias, uma cicatriz visível. Fora um boné desnecessário. Mulheres (mesmo a Gisele Bundchen fugindo da imprensa) não ficam bem de bonés. Rosinha deveria saber. É uma mulher madura. Além de ser obrigada, lá do jeito dela, a fazer campanha presidencial para o marido. Há coisas que um boné não paga. Já a barriga não. Estava onde deveria ficar. No jeito. Uma barriga em tudo verdadeira. E desejável.

Rosinha acreditou no verão sem-vergonha propagandeado por uma marca de cremes para mulheres. É uma propaganda fofa, em que garotas mais cheinhas brandem o direito de ir à praia em paz, embaladas pela voz magrela de Fernanda Abreu. Aparecem com suas barriguinhas volumosas e atraentes. Como travesseiros. Rosinha pensou em ser uma delas. Mas a opinião pública lhe disse que não.

Uma bobagem. A barriga de Rosinha é uma barriga. Uma barriga de mulher com alguns filhos a mais que noventa e cinco por cento do Pepê. Tem marcas de cesariana, de bisturi, de sacrilégio, de mão boba, de arroz feijão purê de batata e carne moída, de desleixo, de ficar sentada, de banha, de dançar agarradinho, de coca-cola e macdonalds, de empurrar com a barriga, de engolir sapos, de beliscões do Bolinha, de falar besteira, de horror à ginástica e de inércia. Marcas de amor também, certamente, por algumas vezes.

Talvez seja isso que dificulte a interpretação da barriga da Rosinha. O amor não a banha. Estamos em semana de moda, uma temporada em que a mentira é bem mais convincente que a franqueza. Não por acaso, o filme da estação, até agora, é 2046, uma idiotice sobre a farsa, estrelado por mulheres de mentira, numa cidade de mentira, ouvindo músicas que não vêm de lá e fingindo amor eterno. Todas magras. E burras.

Rosinha não é burra. Ou não seria governadora. Falem mal do seu governo, então. Não é difícil falar mal do governo estadual. O simples fato de ter sido flagrada no réveillon em Bonito já mostra o pouco apreço que tem pelo carioca. Há vários outros pontos ruins em seu governo. Um volume de queixas, desmandos, demagogia muito maior do que aquilo que a foto revelou.

Rosinha apenas foi apanhada numa hora errada, essa foi sua burrice. Pega numa hora de intimidade. Fazendo coisas que fazemos sozinhos. Como se raspasse as axilas em público. Ou coçasse entre os dedos dos pés. Ou tirasse o buço. Ou estivesse na cadeira lendo o último livro do Paulo Coelho. Ou vendo o DVD da Ana Carolina com o Seu Jorge. Rosinha não é melhor nem pior por ter mostrado a barriga em público. Mas é bem mais bonita, certamente. Ganhou pontos, ali.

Se Rosinha Matheus tratasse do governo do Estado com a mesma franqueza deslavada com que cuida de sua barriga, estaríamos irremediavelmente salvos. E mais felizes

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